A um passo da redenção

Torcedor do Criciúma é sujeito de coração forte. Porquê? Ora, os fatos não deixam dúvidas. Desde a sua fundação, lá em 1947 ainda como Comerciário, o clube prega peças nos torcedores. São ciclos de bom futebol, depois crise. O Comerciário começou em uma cidade que vivia o futebol e tinha vários clubes. Primeiro, precisava conquistar a hegemonia municipal. Conseguiu. Chegou ao auge ganhando um estadual em 1968. Depois, entrou em profunda crise e chegou a ficar temporariamente licenciado em boa parte da década de 70. Depois disso, todos sabemos que Antenor Angeloni provocou uma revolução no clube, mudou o nome, as cores e tudo mais. Naquele momento, o Tigre foi salvo a primeira vez. O amigo e torcedor Rodrigo Sakae, em uma postagem brilhante, relatou no Tigrelog todo este processo: COMO TUDO COMEÇOU. Recomendo a leitura.

De Comerciário a Criciúma E.C: A mudança que revolucionou o futebol da cidade

Aí na década de 80 o Criciúma foi tratado a capricho. Chegou em várias finais e beliscou alguns títulos. Porém, o mais importante: surgia ali a base para o time vencedor do início da década de 90. O clube iniciou a participação nos torneios nacionais,  adquiriu respeito, experiência e ficou conhecido no futebol brasileiro. Em 1986, o Tigre foi campeão do estado quebrando até então uma hegemonia incômoda do rival Joinville. De lambuja, conquistou também a Taça de Prata  (que equivale hoje a um título de série B do Brasileiro) e foi para a elite do futebol nacional. De 1989 à 1995, veio uma sequência fantástica: O tri-campeonato estadual (89 à 91), os títulos estaduais de 93 e 95, um terceiro lugar na Copa do Brasil de 1990 (fomos eliminados nas semifinais, nos pênaltis, pelo Goiás), o título da Copa do Brasil de 1991, o quinto lugar na Libertadores de 1992 e o retorno à elite do futebol nacional no mesmo ano.

Primeiro título estadual como Criciúma Esporte Clube veio em 1986. Foto: Tigrelog.

Primeiro passo do Tricampeonato 89/90/91

Maior título catarinense no futebol. No mesmo ano, veio o tricampeonato estadual.

Em 1992, a única participação catarinense na Taça Libertadores, com um honroso quinto lugar. Não é pra qualquer um, certo?

Logo abaixo, o vídeo da eliminação: após derrota por 1×0 no Morumbi, o Criciúma empatou com o campeão do torneio, São Paulo, por 1×1. Eliminados, sim. Mas muito mais orgulhosos do que tristes!

Em 1995, além do título estadual, o Criciúma E.C. conquistou outra façanha: o recorde de público em partidas de futebol em Santa Catarina:  31.123 pessoas. Eu fui ao jogo e digo que tinha mais. Mas o que conta é o borderô, então…

Ufa! Aos mais jovens, parece algo avassalador. E realmente foi. Uma época muito bacana que marcou e é lembrada até hoje como o tempo áureo do futebol de Santa Catarina.

Em 1996, não fomos campeões estaduais. Mas nos mantivemos na série A do Brasileirão, vencendo na última rodada o Atlético Paranaense no estádio Joaquim Américo. Aquele jogo foi curioso: a torcida do CAP recebeu os criciumenses muito bem. Queriam que o furacão entregasse o jogo para o Tigre, para que o Fluminense fosse rebaixado.

Se entregaram, não sei. Mas nós escapamos, e o FLU SEFU.

Entendam o porquê da rivalidade na época entre FLU e CAP, clicando aqui.

Abaixo, o vídeo do crime que cometemos em Curitiba. Reparem na bandeira da Guerrilha Jovem no meio da organizada OS FANÁTICOS do Atlético:

Em 1997  o clube iniciou, digamos, seu segundo processo de crise. A direção não conseguiu estabilidade e tivemos nosso descenso decretado à série B do Brasileirão, em outro fatídico jogo contra o Atlético Paranaense, no HH, onde o goleiro deles simplesmente foi um goleiro de SELEÇÃO. Detalhe: ele era reserva. Empatamos por 1×1. Dessa vez, o CAP não foi bonzinho.

O jogo continua bem vivo aqui na minha cabeça de torcedor.

De 1998 à 2001 vivemos um período difícil. A única conquista foi o título estadual contra o rival (diria o maior rival que o Criciúma já teve), o falecido Tubarão Futebol Clube em 1998. No restante, amargamos campanhas medíocres do brasileiro, que culminaram no rebaixamento à série C em 1999. Outro jogo fatídico: na última rodada da série B de 1999, perdemos de 4×0 para o União São João, lá em Araras. Caíram os dois clubes. Nosso craque da época? O saudoso Tico Mineiro, sósia do Oséias.

A época também ficou marcada por escassez de patrocínios. Foi a única fase em que eu me recordo de que nossa camisa ficou sem patrocinadores. Chegamos a perder um amistoso para o Biguaçu em casa e outro amistoso para o selecionado local de Meleiro, lá em Meleiro (pelo menos perdemos fora de casa!!). E lá estava eu, em um dia chuvoso, passando vergonha.  Fui muito zoado pelos torcedores do Meleiro.

Em 2000, ganhamos uma oportunidade: o Gama/DF acionou a justiça comum e provocou uma verdadeira revolução no campeonato brasileiro (pra não chamar de virada de mesa): A CBF, pressionada também pelo Fluminense/RJ, se viu obrigada a fazer um torneiro paralelo, o João Havelange, decretando que os clubes rebaixados daquele ano permanecessem onde estavam e chamando outros para disputá-lo. O torneio era dividido por módulos: o módulo azul, que equivalia à série A de hoje, e o módulo amarelo, que equivalia à série B. Pra vocês terem uma idéia, a CBF e o clube dos 13 convidaram 21 clubes para a disputa do módulo amarelo. Virou uma bagunça gigante. Ou seja, em festa onde todo mundo é convidado, tudo acaba em zona.

“Essa copa teve a minha cara: uma bagunça tremenda”. HAVELANGE, João.

Além do Criciúma, vários outros clubes foram beneficiados com a papagaiada, inclusive em SC, ao que me lembro, o Figueirense e o Marcílio Dias estavam na série C e entraram no módulo amarelo a convite da CBF (além do Tigre que caiu mas não caiu). A série B em 2000 teve 5 clubes catarinenses, provavelmente foi a edição em que mais clubes catarinenses participaram ao mesmo tempo.

A charge é auto-explicativa.

Em 1999, o Figueirense terminava a série C daquele ano na sexta colocação, após a eliminação para o São Raimundo/AM em um jogo polêmico. No ano anterior, 1998, a eliminação acontecia na terceira fase, em casa, para o Brasil de Pelotas. Sinal de que o Dr. Havalange deveria ser tratado com muito carinho tanto por lá, como por aqui. Se não fosse ele e seus convites, quem é que sabe o que teria acontecido?Que coisa!

Em 2000 tivemos uma boa campanha no nacional. Batemos na trave para o acesso à série A. O Figueirense também. Em compensação, em 2001, o Figueirense, com a ajuda de Paulo Prisco,  subiu para a série A e ali conquistava o início da hegemonia no futebol catarinense da década de 2000.
E o Tigre? Bem, em 2001 o time que usava a camisa da “Cerâmica Sant’anna” foi até bem no estadual. Maicon Librelato e Jefferson Feijão quase nos deram o título. Porém, perdemos para o JEC que também tinha um bom time e em 2001 conquistou o bicampeonato. Tudo levava a crer que nos sairíamos bem no brasileiro.

Mas o Criciúma parece que tem uma maldição: quando vai bem no estadual, vai mal no brasileiro. E vice-versa.

Em 2001 nós quase caímos novamente. Dessa vez, fomos salvos em uma repescagem, contra o SERGIPE, onde Mahicon Librelato fez o gol salvador da nossa vitória que nos manteve na série B. Ainda bem! Porque em 2002, uma nova fase se iniciou. Foi uma boa fase. Diria que foi a nossa última boa fase. Porém, foi tão curtinha…

Artilheiro e salvador da pátria. Saudoso Mahicon, eternamente na nossa memória!

Em 2002, com Moacir Fernandes de volta ao comando, o Tigre foi vice-campeão no estadual, em uma fórmula estranha de disputa. O melhor estava por vir, com o acesso à série A e de quebra o título da série B. Mais um título nacional para a galeria de troféus, e uma nova fase de glórias parecia estar instalada.

Série B 2002: A segunda maior conquista do futebol catarinense. Também é nossa!

Em 2003, fomos eliminados no estadual pelo CAXIAS de Joinville, e fizemos um bom campeonato brasileiro. Só não fomos mais longe, presumo, porque o clube não quis. Me recordo de uma entrevista na época onde Moacir Fernandes declarou que o clube não queria participar da copa Sulamericana, alegando “falta de estrutura”. Nesse momento, creio eu, ele próprio começou a destruir seu status de herói para com os torcedores, para posteriormente ser ofendido pela mesma torcida que o idolatrava.

Em 2004, não chegamos nem no quadrangular final do estadual, e começamos muito bem no brasileirão. O Criciúma chegou a ser líder por várias rodadas consecutivas, chamando a atenção do Brasil na época. Porém, em uma DESASTROSA sequência de eventos, como lesões, dopping e troca de treinadores, o Criciúma, que passou 99% das rodadas fora do Z4, entrou lá quando não podia. Na última rodada. Mais um clube paranaense nos rebaixou: dessa vez, o Coritiba, que não tinha mais pretensão alguma dentro do campeonato, jogou conosco uma verdadeira final de copa do mundo, em um jogo emocionante que acabou em 3×3. Os atletas do Coxa comemoravam muito o resultado, se abraçando, gesticulando e rindo da nossa torcida.

De líder à rebaixado: Do céu ao inferno no mesmo ano.

É meus amigos. As pragas que soltamos aquele dia caíram direitinho sobre os coxas. O castigo demorou mais veio, e bem no ano do centenário deles. Nunca comemorei tanto um rebaixamento!

Só digo uma coisa: EU RI.

Mas só para não arriscar: se eu sou dirigente do Criciúma hoje, não aceito que a nossa última rodada de qualquer campeonato seja contra clube paranaense. Só pra garantir que mais nenhuma tragédia aconteça conosco.

Em 2005, caímos em uma armadilha. Um time MUITO RUIM foi campeão do estado. Porquê? Algum craque no time? NÃO. Porque o adversário deu gás e provocou os brios daqueles atletas. Quem aqui não recorda daquela partida contra o Atlético de Ibirama, onde nossos jogadores foram agredidos pelos policiais, com spray de pimenta, e o sr. Aires Marchetti falou barbaridades para o Moacir Fernandes? Pois é. Aquilo nos deu o título daquele ano. INFELIZMENTE. Aquele título fez a direção acreditar que o time era bom o suficiente para disputar o brasileiro, que na época tinha uma fórmula grotesca:  Os clubes só disputariam o TURNO, e depois um quadragular. Ou seja, quando todos viram que o time era fraco, já era tarde e não dava pra recuperar. Por isso que eu disse, caímos em uma armadilha criada por um título estadual. Mais uma vez, o Tigre caía para a série C. E dessa vez, nada da Copa João Havalange para nos salvar o vexame.

Em 2006, vivenciamos a primeira experiência do inferno da série C. E o ano já começou mal: o Criciúma fez uma das piores campanhas em estaduais: terminou em NONO colocado, deixando a torcida com uma dor de barriga daquelas. O primeiro “fato” que nos tranquilizou naquele ano foi a participação na Copa do Brasil. Não fomos brilhantes como nos áureos tempos, mas o Criciúma proporcionou uma virada fenomenal contra o São Caetano: no jogo de ida, perdemos por 4×1. No jogo de volta, vencemos por 4×0. Dia memorável para o torcedor.

No brasileiro da série C, fomos campeões. Mas não foi fácil não. Uma troca de técnico inesperada, com a saída de Edson Gaúcho par a entrada de Guilherme Macuglia provocou algumas incertezas no torcedor. Nas fases de grupo, sempre nos classificamos com muito sufoco, e na segunda colocação. O time foi deslanchar de verdade foi no octogonal final. Aí a campanha melhorou, o time mostrou todo o potencial e subimos com o título, sem sustos. Mas um título nacional para a galeria. Não é grande coisa, mas é a conquista mais importante do Avaí e do JEC, por exemplo.

2007 foi um ano difícil. Muito difícil. Moacir Fernandes havia conseguido um plantel promissor, com poucos recursos. Fomos vice-campeões estaduais perdendo o título em casa para a Chapecoense, o que sempre é doloroso. Começamos um brasileiro ARRASADOR, em um time comandado pelo técnico Gelson da Silva, volante campeão da Copa do Brasil em 1991. Finalizamos o turno na liderança, com 37 pontos, e 12 à frente do 5º colocado, sendo que subiam 4. Ou seja, só uma tragédia para tirar o acesso do clube.
E foi justamente isso que aconteceu…

Os craques foram embora: Fernandinho, Clodoaldo e Everaldo foram negociados. O vestiário virou uma fogueira de vaidades, com histórias CABELUDÍSSIMAS de trairagem entre colegas de elenco. Para culminar aquele ano medonho, o dirigente Guido Búrigo, em uma entrevista à João Nassif (me recordo de estar ouvindo a entrevista no estacionamento do supermercado, em meu carro), ele afirmava que o Criciúma era time de “série B”, dando a entender que o clube não queria o acesso. A cidade e a imprensa entraram em polvorosa, mas já era tarde. Perdemos primeiro a liderança, depois a posição no G4, chegando ao fundo do poço com o absurdo de flertar de leve com o rebaixamento, uma vez que o clube fez somente 16 pontos no returno . EITA ANO DANADO!

No vídeo abaixo, ainda éramos líderes:

Em 2007 Moacir Fernandes acumulou um desgaste imenso com a torcida. Os rebaixamentos de 2004 e 2005, a campanha de 2007, a falta de ambição escancarada na imprensa…um ídolo perdia sua identidade, passando de herói à vilão. Ainda hoje, alguns torcedores permanecem horrorizados quando ouvem seu nome. Já outros, os mais antigos, feito eu, tem muito respeito por esta figura, que se errou recentemente, mas no passado deu ao Criciúma todo o status que ele tem hoje. Não gosto de injustiças, e ofender a figura do Moacir, pelo menos na minha opinião, é uma injustiça das grandes.

Depois perguntam porque tantos torcedores tem pavor de 2007…é amigo! Foi pra esquecer. Aliás, esquecer, mas não de tudo. Precisa ficar de lição para que os mesmos erros de outrora não se repitam hoje.

Mas se 2007 foi pra esquecer, eu diria que 2008 e 2009 são pra INCINERAR, TRITURAR, DELETAR E SUMIR DA FACE DA TERRA.

Em 2008, veio a troca de presidência: saía Moacir, desgastado, e entrava o Edson “Cascão” Búrigo, diretor de marketing da gestão anterior. Ou seja, Moacir conseguiu eleger um sucessor.

Aquele ano até que parecia diferente. A direção procurava se aproximar da torcida, com ações específicas; o clube passou a contar com sua primeira loja oficial, que foi lançada com pompas. A Umbro passou a confeccionar nossas camisas (porém, de forma indireta). E no futebol? Bem, fomos vice-campeões novamente, EM CASA, perdendo o título para o Figueirense. É pra acabar com qualquer coração de torcedor né? Bi-vice, em casa. Detalhe: perdendo na prorrogação quando o time massacrou no tempo normal por 3×1.

Dizem que perdemos o estadual naquele ano por uma frescura, e eu concordo: a fase estava tão boa no turno do estadual, que o clube sob as batutas do técnico Leandro Machado decidiu por “ignorar” o returno, jogando com reservas, para deixar o time titular preparado para a Copa do Brasil. A estratégia falhou miseravelmente: perdemos a classificação na Copa para o Vasco, em um jogo eletrizante no HH, e depois o título estadual.

O ponto positivo ficou por conta do show da torcida:

É a vida! Nos restava o brasileirão para tentar o acesso.

Ai ai…quase choro só de lembrar.

Da boa base do estadual, peças importantes foram embora, sobretudo os garotos da base. Jael, Uendel, Patrick, Jean Coral…todos foram torrados em negociações para reforçar o caixa. Sobrou o quê? CONTRATAR. E como contrataram mal aquele ano, a começar pelo técnico, o sr. Leandro Machado. E foram trazendo um medalhão depois do outro. Vou confessar a vocês: o time não era ruim no “papel”: Luciano Bebê tinha sido destaque do Corinthians. Luis Mário era medalhão, mas ainda tinha bola. Peter vinha bem referendado da Chapecoense, e foi contratado junto ao Sport; Canindé era conhecido do São Caetano. Cláudio Luiz era ídolo por aqui. Luis André e Basílio jogavam com raça. Mas afinal, o que aconteceu?

Simples. O time não pensava em grupo, era individualismo, boleiragem e estrelismo aliados ao erro fundamental: a contratação de Jardel.

Jardel, goleador nato, ídolo no Grêmio, em Portugal, outrora artilheiro da europa, deu uma entrevista polêmica no esporte espetacular da globo confessando o uso de drogas e pedindo uma nova chance no futebol.

http://video.google.com/videoplay?docid=-2249529763610156947

Adivinha quem se candidatou a reabilitar Jardel: Quem? Quem? Quem?

TIGRINHO NONATO. Pois é. Jardel chegou ao HH com o status de contratação do ano. Foi criada toda uma campanha de marketing pela vinda do atleta, desde camisas personalizadas à outdoors chamando a torcida.

Outdoors iguaizinhos a esse foram espalhados pela cidade. Vou confessar que, na época, achei uma contratação válida. Uma pena que futebol não segue expectativa de torcedor.

Só que o tal do marketing não chuta bola em gol. O Jardel veio, até jogou algumas partidas de forma razoável, mas foi o último prego no nosso caixãozinho. O restinho de união que havia no vestiário virou estopim pra mais uma crise desgraçada. Cláudio Luiz, que se não era habilidoso pelo menos tinha vergonha na cara, deixava escancarado nas entrevistas que o “Super Mário” não se dedicou ao clube como devia, além de formar grupinhos e rachas dentro do elenco.

Resultado: Adivinhem?

SÉRIE C. Denovo. Mais uma vez, o tíquete para o inferno foi carimbado.

E foi só isso? NÃO. Inventaram de trocar o gramado do HH. Caramba. A intenção foi muito boa, mas o resultado, um desastre! Trocaram o gramado e não reformaram a drenagem. Resultado: vergonha em rede nacional. Nosso gramado virou motivo de piada para todos os comentaristas esportivos. Placas de grama saíam inteiras, abriam-se crateras no gramado, a ponto de no intervalo existir a necessidade de uma operação emergencial “tapa-buracos” com areia.

Esse vídeo não me deixa mentir:

Pra completar o ano, o Avaí conseguiu subir à série A depois de 30 anos. Ou seja, dois times da capital no topo. Que coisa, nem do Avaí a gente podia fazer mais piada.

Sai pra lá 2008! Não quero mais nem falar de ti denovo!

E 2009 meus amigos, as coisas não poderiam piorar, certo?

ERRADO. Em se tratando de superar expectativas negativas, nosso Tigre é invencível!

A crise financeira era grave. Tão grave que naquele ano deu um vendaval monstruoso na cidade que arrancou parte do telhado do HH. Sabendo que a cobertura tinha seguro, e pela demora da reforma, a imprensa foi em cima do presidente e…DESCOBRIMOS QUE A GRANA DO SEGURO FOI USADA PARA PAGAR OUTRAS CONTAS DO CLUBE.

Quando a fase é ruim, o telhado vai embora e o dinheiro também.

E no futebol?

Ainda não sei por qual causa, motivo, razão ou circunstância o Criciúma foi campeão do turno do estadual naquele ano. Putz! Quando me lembro nem acredito. Só que dessa vez, no quadrangular final, ficamos em último aí a nossa vida voltou à incômoda realidade.

Outra vez, armadilha. Com o título do turno, a direção imaginou que na série C o time daria conta. Que mancada. Não quero nem comentar muito. Só quero resumir que chegamos a levar goleada em casa do Marcílio Dias e estivemos perto, mas MUITO perto de cair para a série D.

Alguns já davam a situação do Criciúma como irreversível. Já se ouvia por aí conversa de venda do HH, encerramento de atividades, todas estas coisas lamentáveis que oportunistas adoram semear na hora de crise.

Mas dão medo de ouvir. Com isso não se brinca.

Pra piorar, os rivais da capital, que até 2001 estavam sumidos do cenário nacional, esbanjavam recursos, patrocínios vultuosos, projetos de novos estádios, acumulavam títulos estaduais e campanhas na série A do Campeonato Nacional. Felizmente, nenhum deles teve competência suficiente para igualar nossas conquistas. A primeira década do ano 2000 foi da capital catarinense, o que lhes deu ainda mais exposição na mídia provocando ainda mais amargor para os torcedores do Tigre.

Só que felizmente, o Criciúma pode viver a pior crise financeira, de títulos, de futebol, que seu maior patrimônio jamais vai se perder: que é o amor do torcedor.

Torcedor do Criciúma é algo impressionante. Ainda não sei como a NASA não baixou no HH pra estudar a gente. É coisa de outro mundo!

Toma pancada daqui, sacode de lá, paulada acolá, e ao invés de ficar enojado, cansado daquilo tudo (porque afinal, é apenas futebol, diriam alguns), ele olha pra camisa no armário, coloca ela e sai por aí, tirando onda de torcedores rivais que se gabam por estar na série A. Assim somos nós, que mesmo com orgulho ferido, não sentimos vergonha do clube. Afinal, se a fase era ruim, era só uma fase, e o clube iria se reerguer.

Só que o grande diferencial dessa torcida: ELA NÃO FICOU ESPERANDO MILAGRES. Ela fez acontecer.

O primeiro grande ato: a mudança no conselho deliberativo. Antes composto praticamente por membros “eternos”, que se elegiam e reelegiam perpetuamente, e com uma inércia irritante, este conselho foi renovado, porque torcedores tiveram coragem e força de vontade para mudar. Uma comitiva de sócios patrimoniais liderados por Guilherme “Garéu”  Búrigo conseguiu inscrever uma chapa de oposição, denominada REVIGORAÇÃO para concorrer nas vagas ao conselho deliberativo (diga-se de passagem, inscrever uma chapa de oposição era praticamente IMPOSSÍVEL pelo estatuto anterior). E foram mais longe, venceram as eleições com ampla vantagem, fazendo uma das principais mudanças nas entranhas do clube: a da mentalidade antiquada, parental e conformista que se fazia presente. Era o primeiro passo. Os caciques anteriores perderam o trono.

Revigoração: O ato inicial para a recuperação do Criciúma Esporte Clube.

Algumas manchetes da época:

“A chapa Revigoração venceu as eleições do Conselho Deliberativo do Criciúma. O grupo considerado de oposição somou 487 votos. A chapa de situação teve 170 votos. Houve um voto nulo. O pleito ocorreu neste sábado, dia 15, das 9h às 17h, no estádio Heriberto Hülse.” Portal Sulnotícias

***

As campanhas desastrosas do Criciúma nas três últimas temporadas acabaram proporcionando a mobilização de grande parte dos sócios patrimoniais no sentido de tentar mudar o atual estado de coisas no clube.
Com a liderança do jovem advogado Guilherme Búrigo, o movimento ganhou força, a aprovação de uma chapa denominada “Revigoração” e o apoio de 487 sócios patrimoniais. A chapa da situação ficou nos “alarmantes” 170 votos, dando a nítida impressão de que os atuais conselheiros já estão pra lá de desmotivados.FutebolSC.Com

Depois dessa primeira vitória, a torcida foi mais longe. Protestos contra a direção se intensificaram. De outdoors à faixas, manifestações pacíficas e outras nem tanto, pela primeira vez na vida eu vi um presidente de clube de futebol renunciar. Provavelmente sensibilizado pela pressão dos protestos, aliado à falta de respaldo no conselho deliberativo renovado, que agora cobrava resultados, ele jogou a toalha. A torcida então, conquistava sua segunda vitória em pouco tempo: mudanças na diretoria executiva.

Comunidade de torcedores do Tigre no Orkut pede renúncia da direção.

Outro Outdoor, nos mesmos parâmetros do anterior, inclusive no mesmo local, que fica próximo ao estádio Heriberto Hulse.

O portal Terra noticiou um dos protestos realizados:

” A torcida do Criciúma parece ter chegado ao seu limite. Depois da derrota para o Avaí e da demissão do técnico Paulo Campos, os muros do Heriberto Hulse amanheceram com faixas de protesto ao elenco e à diretoria do clube.

Os dizerem puderam ser lidos pela imprensa antes que funcionários do clube retirassem os materias. Segundo o site Clicrbs, as frases eram as seguintes: “Obrigado pela decepção”, “Time medíocre”, “Cachaça, + Balada = Derrota” e “Diretoria incompetente”.

Com apenas 33 pontos, o Criciúma ocupa a 17ª colocação e amarga uma das vagas na zona de rebaixamento da Série B. Com cinco técnicos desde o início da competição, o time tenta, sob o comando de Luiz Gonzaga Milioli, vencer o Bragantino nesta sexta-feira, às 20h30, em casa.”

Até que a pressão surtiu efeito: em 22 de janeiro de 2010, Edson entregou uma Carta Renúncia ( CLIQUE AQUI E LEIA NA ÍNTEGRA).

A notícia teve destaque no site GloboEsporte.Com:

“Acompanhando Edson Búrigo, o Cascão, no anúncio oficial da sua renúncia ao cargo de presidente do Criciúma Esporte Clube, ocorrida na tarde desta sexta, somente fotógrafos, cinegrafistas e reportéres. Nenhum membro da diretoria ou do Conselho Deliberativo compareceu. Edson Búrigo protocolou na secretaria do clube a carta-renúncia onde apresenta os motivos que o levaram a tomar tal decisão. Visivelmente emocionado e nervoso, disse que os motivos da renúncia foram sequência de resultados negativos.”

Não tenho absolutamente NADA contra o ex-presidente Edson. Dentre os presidentes do clube, ele foi o único que me convidou a entrar em sua sala para batermos um papo (enviei um email ao clube, ele gostou e me chamou para conversar na época). Foi assim que conheci a sala da presidência! Sujeito muito educado, simples, me passou uma impressão muito positiva. Penso que ele foi corajoso em assumir uma responsabilidade tão grandiosa como o Criciúma Esporte Clube, em uma época que ninguém dava a cara à tapa. Só que um presidente não age sozinho, precisa de pessoas de confiança e competência ao seu lado para ter uma gestão de qualidade. Edson esteve todo o tempo muito mal acompanhado, por pessoas que não entendiam o que estavam fazendo. Uma pena que sua figura pessoal tenha saído tão arranhada. Ele não merecia.

Após a renúncia, em 2010, um período de incertezas. Quem vai assumir? Quem teria essa capacidade? Quem poderia resgatar o clube do fundo do poço?

E mais uma vez, ela, a torcida, foi a responsável pela solução. Iniciou-se um movimento, entre a torcida, pedindo a volta de Antenor Angeloni. A idéia ganhou corpo, amplitude, e foi comprada pela imprensa. Antenor, então, também comprou a idéia. Sensibilizado, e também porque não dizer “pressionado”, assumiu para si a responsabilidade de arrumar a casa, aliás, uma casa que ele arrumou no passado e que precisava de reformas antes que tudo virasse ruínas.

E tá aqui o discurso de posse do cara que assumiu a bronca:

E o homem arregaçou as mangas e foi à luta. E todos nós fomos com ele. Em 2010, o acesso de volta à série B veio, mas veio com muita luta e sacrifício. A cidade apoiou integralmente o projeto e respirou o clube dia e noite. Era o assunto de todos os lugares. E com um time sem estrelas e um treinador turrão, subimos. NA MARRA. Com toda a emoção que o torcedor do Tigre já está acostumado a passar. O Macaé se borrou aqui no HH! Até hoje, os cariocas reclamam que não conseguiram dormir lá em Orleans na noite anterior do jogo. Colocaram a culpa na nossa torcida, mas eu nego. Digo que eles estavam com dor de barriga e medo da massa tricolor.

Depois do acesso, o clube voltou a ter prestígio, teve o apoio de grandes patrocinadores, os sócios voltaram ao clube, o marketing foi revolucionado. Muitos débitos foram pagos, e projetos protocolados. O maravilhoso projeto Tigrinhos (com foco no trabalho social e nas categorias de base) teve seu início e hoje é uma realidade muito promissora.

Em 2011, com as coisas mais acertadas nos lados administrativo e financeiro, o clube pôde se focar mais no futebol. Foram feitos muitos testes, sobretudo na direção e gerência de futebol. O resultado não poderia ser diferente: tivemos uma campanha ruim no brasileiro e longe do acesso. No estadual, mais uma vez fomos vice-campeões. Pelo menos, dessa vez, foi fora de CASA.

Mas a torcida é campeã. Vai dizer que não?

Paciência, o título não veio. As coisas precisam de tempo para se reestruturar.

E 2012?

Bom, esperávamos que os erros de 2011 não se repetissem. Uma evolução precisava aparecer.

Começamos mal, certo? O estadual foi um desastre. Mais uma vez o cargo de diretor de futebol precisou ser mudado. Valdecir Rampinelli, dirigente campeão da série B em 2002, retornou ao HH com a promessa de melhores resultados.

Como diz o ditado, às vezes, há males que vem para o bem. A entrada do Rampinelli foi o legado positivo da campanha ruim no catarinense.

E os bons resultados tem aparecido. Atletas foram embora, outros foram contratados. Temos hoje, na mão, a chance real de acesso, de retorno à elite do futebol brasileiro. Depois de tantos anos amargos, angustiantes, temos a oportunidade de sentir novamente o sabor de um novo trunfo, uma nova conquista.

Me recordo muito bem da queda à série C em 2008. Com lágrimas nos olhos, eu jurei pra mim mesmo que estaria no estádio Heriberto Hulse quando meu Tigre estivesse voltando à série A. E nesse ano de 2012, 4 anos depois, eu me lembro dessa promessa e quero cumpri-la.

E me parece que em 2012 as coisas estão mudando no âmbito geral. O panorama no futebol catarinense está se transformando. Avaí e Figueirense amargam um princípio de crise. Talvez saiam dessa, não sei. Mas esta oportunidade que surge à nossa frente não pode ser desperdiçada. Por muito tempo a hegemonia do futebol catarinense foi nossa. E precisamos retormar este posto tão logo quanto for possível. Aí está uma grande oportunidade.

Que façamos primeiro a nossa parte, o acesso. Depois, vale uma secadinha. Também já nos secaram muito!!! E isso faz parte do futebol.

Afinal, apesar de momentos ruins, é nosso o maior título desse estado; é nossa a única participação catarinense na Libertadores. Somos o clube catarinense melhor ranqueado na CBF, e temos o recorde de público dentre os estádios catarinenses. Isso, em si, já nos credencia à hegemonia. Mas nós queremos mais, queremos o topo novamente. Queremos a série A.

Por isso, conclamo os torcedores, sócios, simpatizantes: VAMOS NOS UNIR. Estamos na reta final e nas rodadas decisivas. Compareçam nos jogos, pendurem bandeiras, tragam novos sócios ao clube. Usem essa camisa com orgulho. Não vaiem o time em hipótese alguma. Tudo está tão perto, tão concreto, que não me passa pela cabeça deixar isso escapar. Seria o coroamento de uma torcida que teve o coração dilacerado em outras épocas, mas que jamais deixou de amar o clube.

Duvidam da força dessa torcida? Oras. Eu não. A mesma torcida que mudou os rumos do clube, conseguiu fazer isso também nesse ano, onde somos praticamente imbatíveis em casa:

Acreditaremos até o último minuto.

Porque esse clube representa a nossa cidade, a nossa região, as nossas lutas. Uma resistência da região sul catarinense ao abandono político. A garra de um clube do interior que com a força da torcida conquistou o país. É o nosso cartão postal, nosso ponto de referência, o elemento que tira a nossa cidade da vala comum.

Vamos, vamos juntos. Porque as lágrimas que virão em breve certamente serão de felicidade! Depois de sair do verdadeiro inferno, estamos A UM PASSO DA REDENÇÃO.

Uma nova fase, uma excelente fase, se aproxima. Depende de nós.

EU ACREDITO!

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Arquivado em Criciúma E.C., Esportes, Futebol

21 Respostas para “A um passo da redenção

  1. Anônimo

    Li tudo. Falta material de qualidade como o seu sobre a história de nosso time! Parabéns!

  2. Nossa muito bom o texto, é de arrepiar!

  3. Ola amigo, Parabéns pelo texto, Realmente de emocionar!!!!

  4. Ivan

    Alex, tudo muito bom, me lembro de cada parte dessa história. Só uma correçãozinha de chato, o Marco Antonio jogou aqui em 2007, no segundo turno, e não no time rebaixado de 2008.
    Um abraço.

  5. Emocionante o texto. Parabéns (mais uma vez) pelo belíssimo trabalho…..

  6. rodrigo milak

    muito bom parabens pela iniciativa de reescrever a nossa historia…

  7. wladmir

    TESTO FODAÇO…MUITO BOM MESMO..

  8. Cara… li no trabalho e me aguentei pra não chorar!
    Perfeito o texto, e realmente, final do ano iremos estar com a avenida centenário lotada de carros com bandeiras pretas e amarelas comemorando o acesso!
    Só uma coisa, em 2011 perdemos o catarinense lá em Chapecó, e não em casa! Fui ver o jogo com o meu pai, e voltar em uma viajem de 8 horas com um vice na cabeça não foi fácil!
    Agora é 2012, esse é o nosso ano! Esse ano iremos subir!!!!!
    VAMOS SUBIR TIGRE!!!

  9. Eduardo

    Parabéns pelo blog ! Muito bom !

  10. Fantástico, Alex, parabéééénss!!!

  11. Texto Perfeito….. Não vamos deixar essa chance de subir escapar!

  12. Rodrigo Sakae

    A redenção é uma situação sólida… Não digo que subir pra Série A não seja sinal de que não voltemos a ser o maior de SC, mas pra entrar nos campeonatos de alta competitividade com chance de vencê-los, leva mais uns 5 aninhos na primeira… #VamosSubirTigre

  13. Muito bom o texto, Alex. Esse Criciúma faz coisa! Me emocionei, estamos a um passo, mas ainda faltam algumas vitórias! VAMOS SUBIR TIGRE!

  14. Parabéns pelo melhor texto sobre a Criciúma. Jamais foi publicado ou postado algo tão bom. Bom não, excelente ! Brilhante !

  15. Rey You

    O vídeo da posse do Angeloni é histórico

  16. Tiago

    Tirando que em 2007 nós ficamos em sétimo lugar, e passamos bem longe do rebaixamento, ao contrário do que diz o texto, tá tudo perfeito! Belo texto! Muito bem escrito e muito informativo!

    • De fato, ficamos em sétimo. Bem lembrado. Me expressei mal na colocação, mas me recordo de que na época o desempenho foi tão ruim no returno que o medo do rebaixamento começou a rondar. Fizemos somente 16 pontos. Absurdo! Mas valeu a dica. Já corrigi o texto. E corrigi também o resultado contra o União São João em 99: foi 4×0 pra eles, e não 4×1. Obrigado por ler e interagir com o blog!

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